André Bernardi, médico do Grupo Hygea e da Sociedade Brasileira de Cardiologia, fala sobre o assunto
Texto original publicado no site Luciana Pombo em 11 de novembro de 2020
A COVID-19 foi entendida, no início da pandemia, como uma doença pulmonar. Porém, logo constatou-se ser uma enfermidade sistêmica, que ataca praticamente todos os órgãos e funções do corpo. Dados crescentes têm mostrado uma carga significativa de lesão cardíaca em pacientes acometidos pela doença.
Segundo o cardiologista do Grupo Hygea, André Bernardi, um estudo alemão evidencia que, após dois meses do diagnóstico, os cientistas submeteram os pacientes já totalmente curados a exames de ressonância magnética e fizeram descobertas alarmantes: cerca de 80% deles apresentavam anomalias cardíacas e 60% tinham miocardite – inflamação da camada média da parede do coração (miocárdio).
Outro estudo, agora na China, mostra que 20% dos pacientes de um grupo de estudos demonstraram lesão cardíaca, frequentemente associada a doenças mais graves. Eles eram mais propensos, por ser mais velhos, a ter Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e apresentar taxas de mortalidade mais altas.
O risco de lesão cardíaca, evidenciado pelo aumento dos níveis de troponina – proteínas que participam do processo de contração muscular no músculo esquelético e cardíaco -, era de até 22% em pacientes de UTI da Covid-19.
Curiosamente, até 12% dos pacientes sem doença cardiovascular conhecida tinham níveis elevados de troponina ou sofreram parada cardíaca durante a hospitalização para COVID-19. A fisiopatologia da lesão está sob investigação, mas algumas apresentações parecem relacionadas à tempestade de outras proteínas secretadas por células e que afetam o comportamento das células vizinhas portadoras de receptores adequados (citocina).
Por fim, o médico defende que a atenção ao sistema cardiovascular do paciente de COVID-19, durante e após o tratamento para a doença, minimizando, assim, possíveis danos e, até mesmo, óbitos em decorrência das sequelas da COVID-19.